Editorial

Colher de chá eleitoreira

Nem bem havia sido concluída ontem a reunião entre integrantes do governo federal para discutir a questão da cobrança de impostos na comercialização de combustíveis e postos de todo o País já começavam a se movimentar informando consumidores que chegavam para abastecer ou através de mensagens em grupos de aplicativos sobre o aumento de preços nas bombas. Em alguns casos, já foi possível notar o início imediato à elevação propriamente dita. A ação das abastecedoras - intempestiva, dada a validade da isenção expirar somente amanhã - deu uma mostra do que os consumidores terão pela frente a partir de agora na hora de encher o tanque de seus veículos.

A retomada da cobrança de Cide e PIS sobre os combustíveis era esperada. Uma questão de tempo. Afinal, surgiu não como uma política bem planejada e estruturada do ponto de vista econômico por parte do governo federal. Foi implantada ainda em 2022 pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no calor de uma disputa eleitoral e diante da pressão natural que governantes estão expostos quando a inflação está em alta e o custo da gasolina nas bombas passa a chamar atenção dos consumidores. Ou seja, embora tenha tido papel importante ao segurar pelo menos um pouco o custo de vida - notadamente da classe média -, a isenção de impostos foi, sobretudo, uma medida de sobrevivência eleitoral do então presidente que, naquele momento, buscava de todas as formas melhorar sua popularidade. Tanto que a benesse tinha data definida para ser revertida: o primeiro dia do novo governo.

Ao ser eleito, Lula não fez cálculo muito diferente de seu antecessor. Se o ex-presidente buscava ganhar popularidade para se manter no poder, o atual optou não arriscar a sua, em alta pela vitória nas urnas, e prorrogou a isenção. Ontem, no entanto, o petista e sua equipe econômica bateram o martelo com o que ocorreria mais cedo ou mais tarde, voltando a aplicar as alíquotas sobre os combustíveis, medida defendida pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad e outros economistas como o adequado para não sacrificar ainda mais as contas públicas, já fartamente baqueadas por medidas populistas e eleitoreiras. A estimativa é que essa incidência da Cide e do PIS represente a entrada de R$ 28,8 bilhões por ano na conta do governo.

A partir de agora, o peso maior dos preços dos combustíveis será sentido pela população na hora de abastecer e, provavelmente, com altas em outros produtos. Um desgaste que o governo precisará saber contornar, visto que a população ainda tenta respirar diante das graves crises econômicas e políticas que resultaram, entre outros problemas, na perda de poder de compra. A arrecadação bilionária precisará se justificar. Se acabou a colher de chá eleitoreira, o momento agora é de uma dose forte de responsabilidade aliada a uma boa administração que concilie equilíbrio econômico e potentes políticas sociais.

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